O porquê do Free Style (estilo livre) na sua obra, segundo o próprio João Feijó, prende-se o com o facto de ser o modo como se sente mais confortável face à Arte ou mesmo o caminho a que se entrega e no qual mais se desenvolve.
Não se considera um pintor “seguidista”, por não aderir a qualquer tipo de regras ou de estilos que permitiriam, de imediato, identificá-lo ou fazê-lo ser entendido pela comunidade artística. Ao invés, sente que a sua postura é a sua maneira de ser totalmente leal à sua criação e, como Pablo Picasso dizia, “um artista preso a um estilo é um artista condenado”.
João Feijó adora ser livre e sem castrações naquilo que tem de criar e quer ser sempre isento de quaisquer medos de críticas que possam afirmar que é um artista sem um estilo definido. É por isso que aceita que não será muito fácil ser interpretado ou entendido, mas esse factor pouco lhe importa, bem pelo contrário, dá-lhe até uma refrescante alegria, na medida em que irá ter de ser acompanhado a vida inteira, sem nunca correr o risco de ser óbvio.
Pinta, antes de tudo o mais, para si próprio, tentando ser o mais fiel possível às suas vontades momentâneas e ao estado de espírito em que se encontrar, sendo-lhe de todo impossível pintar, se estiver triste, algo onde abundem as cores garridas, os movimentos rápidos, em suma, a alegria. É por esta razão que cria, num estado de espírito mais nostálgico, obras mais bucólicas e monólogos de tonalidades médias e transparentes. De idêntico modo, quando se encontra mais alegre, deixa fluir as mensagens com que o seu corpo e mente o impregnam e recria o que lhe vem à mente nessa justa ocasião. Assim nascem as obras mais fortes, mais marcantes, sem grandes romantismos, mas antes com os sentimentos mais consentâneos com a euforia específica do instante em causa.
Pintar é algo comparável a viver. Do mesmo modo que existem dias em que se acorda com os sentimentos mais diversos (alegres, apaixonados, tristes, stressados, angustiados, ansiosos), assim nascem as obras...
João Feijó não consegue sequer vislumbrar-se a pintar no mesmo estilo durante anos, como tantos artistas que conhece e cujo processo criativo, técnica e até evolução admira, optam por fazer... Para ele, isso seria impensável, uma desastrosa monotonia.
Todavia, no mundo dos nossos dias, já não é somente a técnica aquilo que mais prevalece, mas antes a criatividade, o produto final que o artista consegue transmitir, o sentimento mais fidedigno do que experimentou num determinado instante e que assim se imortaliza. Não que o lado académico não seja importante, mas a realidade é que existem muitos professores de arte e até escolas que condicionam, de certo modo, a espontaneidade oriunda de alguns potenciais futuros criadores artísticos.
Contudo, esta é uma matéria em que entende não precisar de se alongar demasiadamente, porque o que importa deveras é tentar passar a mensagem da razão de ser do modo como vê a arte em si e na sua vida e vice-versa, pois não consegue mesmo vislumbrar-se desenvolvendo qualquer outra actividade senão a de criar, a qual designa, desassombradamente, por “gozo pessoal”, algo muito para além de si mesmo e parte integrante do seu ser interno e inteiro, bem mais do que somente uma mera profissão.
Feijó ama o que faz: pintar, criar arte! Para ele é tão essencial como respirar, comer, dormir ou amar... Entende que é um privilegiado porque faz o que gosta e quer e, ainda, é remunerado por isso.
Como tantos outros, afirma, não se sente excepção. Passou uma fase de tormento, no início da carreira, um tempo de afirmação como artista e, como é óbvio, o reconhecimento levou alguns anos a chegar, porém, a vantagem é que, contrariamente à grande maioria das outras profissões, quanto mais velho fica o pintor, mais pode valer, mais apurado e sensível se vai tornando, logo, não corre tanto o risco da “pasmaceira da reforma”, que tanta gente ceifa à vida, uma vez que a inércia se apodera dos mais idosos e os remete para uma espera quase fatídica do dia do “juízo final”.
No que concerne às várias fases da pintura deste artista, vou falar-vos primeiramente da aguarela. Geralmente revela um estado meio silencioso e nostálgico e talvez até alguma nova paixão que desponta ou um querer amar de novo... As obras são verdadeiros ansiolíticos ou, por vezes, placebos que acalmam o artista e o transportam para uma nova realidade: a da aparente tranquilidade.
Os óleos, técnica que menos aprecia trabalhar, mostram obras mais quentes, com cores e matérias mais fortes, onde pinta temas mais quotidianos e minimalistas, correspondendo a uma época de grande autoconfiança e, consequentemente, reveladoras de grande pesquisa artística.
No tocante aos acrílicos, técnica de que gosta bastante, são talvez os quadros que mais lhe permitem uma melhor execução, porque lhe possibilitam acompanhar com a mão, com mais rigor e exactidão, a desenfreada velocidade-luz da sua mente.
Com efeito, os conteúdos da sua última exposição, realizada em 2007 e intitulada “Uma Vontade Antiga”, foram quase integralmente inspirados em tons terra, sépias e ocres quentes, tons estes que lhe permitem recuar no tempo e recordar um dos cheiros que mais ama: o da chuva na terra seca e as viagens por terras de África. O acrílico permite ainda a realização de algumas aventuras, como adicionar matérias muito variadas de que gosta particularmente, ou seja, Feijó aprecia, como eu, aliás, “ferros velhos e lixeiras”. E mais não digo...
Sobre João Feijó, o melhor mesmo, em minha modesta opinião, é verdes e julgardes por vós próprios! Deixo o desafio!
Lisboa, 3 de Setembro de 2009
Teresa Machado
(Poetisa, não crítica de arte)